Jovens
Cientistas do século XXI
Biblioteca Dr. João das Regras
Durante o ano letivo de 2015/2016, a
biblioteca da escola sede do Agrupamento de Escolas D. Lourenço Vicente deu o
seu contributo para a literacia científica tantas vezes desvalorizada, já que
todos se envergonhariam por não saber qual a capital de França, ou quem
escreveu os Lusíadas, mas poucos corarão de vergonha por não saberem porque se
equilibra a torre de pizza, porque existem sombras ou porque uma melancia cai
de uma árvore à mesma velocidade de uma maçã. Pois é! Por esta altura estarão
todos a pensar ser vergonhoso não saber que as melancias não nascem nas
árvores, desvalorizando o facto de eventualmente não saberem que estas cairiam
verdadeiramente à mesma velocidade de uma maçã.
Assim sendo, os alunos do 5º e do 6º
ano de escolaridade visitaram a biblioteca uma vez em cada período com o
intuito de desafiarem as suas conceções e desenvolverem o seu espírito crítico
e científico, num contexto sempre experimental e alusivo ao mundo literário.
Na semana em que se comemorou o Halloween um
pouco por todo o mundo, numa prova inequívoca de que a aculturação não conhece
fronteiras, a Biblioteca Escolar da Escola E. B. 2, 3 Dr. João das Regras não
foi exceção. Para além de outras atividades alusivas a esta comemoração,
realizou-se neste espaço ao longo de quatro dias uma iniciativa denominada
‘Ciência Mágica’ destinada às turmas do 6º ano.
Partindo de uma animação da autoria de
Rodrigo Leandro, narrada por Guto Russel, baseada no poema “O Corvo” do
norte-americano Edgar Allan Poe, aqui traduzido pelo poeta brasileiro Machado
de Assis (embora Fernando Pessoa também tenha feito uma tradução deste
conhecido poema do Século XIX) os alunos deram início a uma jornada de
questionamento, discussão, levantamento de hipóteses, experimentação e
explicação de um fenómeno que não sendo mágico os deixou primeiramente
boquiabertos.
O corvo, que no poema nada mais dizia
a partir do seu pouso a não ser um enigmático “Nunca mais”, saiu da tela e
materializou-se num equilíbrio desafiador dos nossos sentidos, parecendo nunca
mais cair da extremidade da caneta onde se equilibrava. Foi um bando de mais de
uma centena de corvos de papel que saíram da biblioteca equilibrados nas
canetas e nas pontas dos dedos dos alunos que, em bandos sorridentes, os
passearam pelo átrio da escola.
A primeira semana de fevereiro foi uma
semana de ciência na biblioteca da escola sede. Sob a égide da atividade
“Jovens Cientistas do Século XXI”, os alunos das turmas do 5º ano de
escolaridade foram confrontados com um problema, identificaram variáveis,
procuraram explicações, testaram hipóteses e comprovaram uma teoria simples: A
luz propaga-se de forma retilínea e se assim não fosse, não existiriam sombras,
ou, se existissem, não seriam como as que conhecemos.
Pouco mais de uma centena de alunos,
depois de desafiados a pensar no fenómeno luz e sombra segundo uma perspetiva
nunca antes por si experimentada, fizeram previsões acerca do funcionamento de
uma caixa escura (caixa fechada, com um pequeno orifício por onde entra a luz).
Depois de exploradas estas previsões, foi tempo de colocar mãos à obra e
construir uma caixa escura para observar aquilo que ninguém previu, apesar das
muitas “selfies” diárias tiradas com
objetos que, quando usados como máquinas fotográficas, são pouco mais do que pequenas
caixas escuras com alguma ótica e eletrónica associadas.
A caixa escura construída era um cubo
com um pequeno orifício numa face e uma janela de papel vegetal na face oposta
à do orifício. Aquilo que ninguém previu foi que, ao colocar uma vela junto do
orifício da caixa, se visse no ecran
feito de papel vegetal a inequívoca imagem da vela que fora colocada em frente
do orifício… uma imagem invertida, como também é invertida a imagem que se
forma na nossa retina e que o cérebro tão bem interpreta, impedindo-nos de
trocar o número seis (6) pelo número (9) e vice-versa. A surpresa foi grande e
a percentagem de entusiasmo pela ciência existente no universo, aumentou um
nadinha à custa dos alunos da Escola E.B. 2, 3 Dr. João das Regras.
Na Semana da Leitura, que decorreu no
início do mês de abril, a magia do cinema e da animação foi o ponto de partida
para a abordagem de conceitos como velocidade, distância e tempo, associados ao
funcionamento da nossa visão e à história do cinema. Depois de percebido um
fenómeno tão simples como encantador, os alunos da turma E do 6º ano foram
desafiados a fazer uma obra coletiva – a animação do poema ‘Fundo do Mar’ de
Sophia de Mello Breyner Andersen.
Depois de devidamente inspirados pela
melodia das palavras deste belo poema e sempre com o som das ondas do mar como
pano de fundo, cada aluno fez 25 desenhos para serem transformados futuramente
em nada mais, nada menos, do que 1 segundo de animação… Todos juntos, se tudo
correr como previsto, os alunos do 6ºE farão uma animação de 20 segundos que ilustrará
de forma animada o texto que deu mote à atividade denominada “Poema Animado”. Não
será uma longa metragem nem uma curta, como se diz no cinema. Será quando muito
uma ‘nanoanimação’, designação que só uma literacia científica mínima permitirá
descodificar.
Paulo Lima